11 de julho de 2025
Tensões comerciais entre Brasil e EUA
Riscos e oportunidades para o setor de reforma de pneus
A proposta de novas tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos, com alíquotas de até 50% sobre produtos brasileiros, expôs uma vez mais a fragilidade das cadeias globais e os desafios que o Brasil enfrenta em um cenário de protecionismo crescente. Pneus não estão entre os itens diretamente atingidos, mas os efeitos indiretos sobre setores estratégicos, como o agronegócio e a indústria de base, devem ser observados com atenção pelo setor de reforma de pneus.
Os riscos que se desenham
Embora o setor de reforma esteja à margem da lista de taxações, os impactos econômicos indiretos podem ser significativos:
- Redução da demanda do agronegócio
O agro é um dos principais consumidores de pneus de carga no Brasil. Com o encarecimento das exportações para os EUA e possível queda de receita no setor, há risco de redução de investimentos em manutenção e renovação de frota, o que pode afetar negativamente o volume de pneus a serem reformados ou substituídos.
- Alta nos custos de insumos industriais
Tarifas sobre aço e alumínio — também utilizados na fabricação de carcaças, cintas e componentes de máquinas — podem elevar o custo de produção e manutenção de equipamentos usados nas reformadoras. Além disso, a pressão cambial e o encarecimento de itens importados usados em compostos de borracha podem impactar o custo operacional das empresas do setor.
- Incerteza no mercado interno
A instabilidade gerada pelas tensões comerciais pode frear investimentos e comprometer contratos com transportadoras, cooperativas e grandes grupos agrícolas, levando o setor a um período de retração ou estagnação.
Um cenário desafiador, mas com brechas para crescimento
Mesmo diante dos riscos, o contexto pode abrir espaço para a reforma de pneus ganhar protagonismo como alternativa estratégica, desde que o setor aja com inteligência e articulação institucional:
- Busca por soluções mais econômicas
A contenção de custos será inevitável em diversos segmentos. Pneus reformados, com desempenho compatível e preço até 60% menor, podem ser a escolha racional em frotas pressionadas.
- Alinhamento com políticas ESG e economia circular
A valorização de práticas sustentáveis e o endurecimento de normas ambientais em vários setores criam um ambiente favorável à reforma, que evita o descarte precoce e reduz a emissão de CO₂.
- Potencial de reposicionamento estratégico
Reformadoras estruturadas podem se apresentar como parceiras estratégicas para grandes players do agro e da logística, oferecendo pacotes de gestão de pneus que vão além da simples reforma, integrando rastreabilidade, desempenho e eficiência operacional.
O que o setor deve fazer agora
Diante de um cenário instável, o setor de reforma de pneus deve:
- Acompanhar de perto os desdobramentos comerciais e políticos
- Refinar seus argumentos junto ao poder público para defender políticas de incentivo à economia circular
- Reforçar sua comunicação institucional, destacando ganhos econômicos e ambientais da reforma
- Investir em qualidade, rastreabilidade e padronização, para competir com segurança em momentos de retração de mercado
O “tarifaço” dos EUA não atinge diretamente o setor de pneus, mas seus efeitos indiretos podem ser sentidos na base da cadeia produtiva e na capacidade de investimento de grandes consumidores. O momento exige cautela, adaptação e inteligência estratégica.
Mais do que nunca, o setor precisa mostrar sua força como parte da solução para um Brasil mais eficiente, sustentável e preparado para enfrentar instabilidades globais.